Entre os pesquisadores brasileiros que se dedicaram a avaliar o impacto da neurociência para questões sobre o livre-arbítrio, Gilberto Gomes é certamente um dos que teve maior repercussão na literatura internacional. Gilberto Gomes é doutor em psicopatologia fundamental e psicanálise pela Université Paris VII e professor aposentado e colaborador da Universidade Estadual do Norte Fluminense, Darcy Ribeiro. Seus trabalhos mais citados incluem “The timing of conscious experience: a critical review and reinterpretation of Libet’s research” (Consciousness and Cognition, 1998), “Volition and the readiness potential” (Journal of Consciousness Studies, 1999), “The interpretation of Libet’s results on the timing of conscious events: A commentary” (Consciousness and Cognition, 2002) e “Free will, the self, and the brain” (Behavioral Sciences & the Law, 2007). E, apesar da importância dessas contribuições, elas raramente foram discutidas no Brasil.
Em meu artigo mais recente, aceito para publicação na revista Filosofia Unisinos, presto meu reconhecimento ao trabalho de Gomes à maneira dos filósofos: discutindo criticamente suas teses e argumentos. Em vários lugares, e especialmente em seu artigo de 2007, Gomes descreve sua concepção sobre o livre-arbítrio como endossando o compatibilismo, a tese segundo a qual o livre-arbítrio poderia existir ainda que a tese do determinismo fosse verdadeira. Meu artigo, intitulado “Gilberto Gomes é mesmo um compatibilista?“, contesta essa afirmação e busca mostrar que Gomes está, no fim das contas, comprometido com uma forma de incompatibilismo. Segue o resumo do artigo:
“Este artigo tem como tema o trabalho de Gilberto Gomes sobre o livre-arbítrio. Em uma série de contribuições que tiveram um impacto significativo na respectiva literatura, Gomes elaborou uma concepção sobre o livre-arbítrio e argumentou que sua existência é consistente com descobertas científicas recentes, especialmente na neurociência. Neste artigo, questiono uma afirmação de Gomes sobre sua concepção sobre o livre-arbítrio, a saber, que se trata de uma concepção compatibilista. Busco mostrar que Gomes não usa o termo ‘compatibilismo’ como é habitual na literatura contemporânea sobre o livre-arbítrio, isto é, como a tese segundo a qual o livre-arbítrio pode existir ainda que o determinismo seja verdadeiro. Ademais, a concepção sobre o livre-arbítrio desenvolvida por Gomes tem, efetivamente, um compromisso incompatibilista. Argumento que, mais do que uma mera elucidação terminológica, reconhecer o elemento incompatibilista presente na proposta de Gomes suscita questões importantes sobre os detalhes da proposta e também ajuda a reconhecer uma limitação de sua defesa da existência do livre-arbítrio.”
A versão pré-publicação de meu artigo está disponível aqui (a versão oficial deve ser publicada ainda este ano). Mais informações sobre o trabalho de Gomes estão disponíveis em seu Currículo Lattes.
Atualização (19/12/2018) — versão final publicada: Fischborn, M. Gilberto Gomes é mesmo um compatibilista? Filosofia Unisinos 19.3 (2018): 179-188.
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