“A noção mais fundamental na lógica clássica é a noção de verdade. Os filósofos, é claro, há muito debatem a questão ‘o que é a verdade?’, mas esse é um debate que, para os propósitos deste livro, precisamos deixar de lado. Suponhamos que sabemos o que é a verdade.
Importamo-nos com a verdade porque nos interessa aquilo que é verdadeiro, o que chamarei de ‘proposição’. Os filósofos, novamente, têm concepções diferentes sobre o que conta como uma proposição. Uma concepção simples diz que uma proposição é uma frase (declarativa), mas quando pensamos um pouco a respeito, há dificuldades óbvias nessa sugestão. Pois a mesma frase pode ser usada, por falantes diferentes ou em contextos diferentes, para dizer coisas diferentes, algumas verdadeiras e outras falsas. Por isso, pode-se preferir sustentar que não são as frases que são verdadeiras ou falsas, mas proferimentos particulares delas, isto é, proferimentos feitos por pessoas particulares, em momentos e lugares particulares, nesta ou naquela situação particular. Uma concepção mais tradicional, entretanto, diz que não são frases nem proferimentos delas que são verdadeiros, mas um tipo mais abstrato de entidade, que podemos caracterizar como o que é dito por alguém que profere a frase. Uma outra concepção, com uma história mais longa, diz que o que é expresso por alguém que profere uma frase não é uma entidade abstrata, mas uma entidade mental, por exemplo, um juízo ou, de modo mais geral, um pensamento. Novamente, precisamos deixar esse debate de lado. O que quer que se deva chamar, adequadamente, de verdadeiro, ou falso, é isso que chamaremos de proposição. Essa, pelo menos, é a posição oficial. Mas, na prática, falarei várias vezes de modo frouxo sobre frases verdadeiras ou falsas. Pois, o que quer que as proposições sejam, elas têm de estar fortemente associadas a frases, uma vez que é por meio de frases que expressamos tanto verdades quanto falsidades.”
Texto extraído de Bostock, David (1997), Intermediate Logic. New York, Oxford University Press, pp. 3-4. Traduzido por Marcelo Fischborn para fins didáticos.


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