Marcelo Fischborn

Doutor em Filosofia. Professor no Instituto Federal Farroupilha. Autor de Por que pensar assim? Uma introdução à filosofia

Estou relendo o artigo “Reciprocal Effects Between Adolescent Externalizing Problems and Measures of Achievement“, escrito por Friederike Zimmermann e um grupo de pesquisadores alemães. A pesquisa investiga a relação entre desempenho acadêmico e comportamentos agressivos (também chamados de problemas de externalização). A correlação entre os dois domínios é reconhecida e explorada pelo menos desde o início do século XX.

Professora e alunos.
Foto de National Cancer Institute na Unsplash

No estudo de Zimmermann, adolescentes com comportamento mais desafiador receberam de seus professores notas mais baixas em matemática e linguagens (no caso, língua alemã). Curiosamente, no entanto, esse efeito foi menor (e às vezes ausente) quando o desempenho nas mesmas matérias foi medido com testes padronizados. Mais curiosamente ainda, o sistema educativo alemão exige que as notas concentrem-se no desempenho acadêmico dos estudantes, reservando por vezes um espaço separado para o registro de aspectos comportamentais como cooperatividade e pontualidade.

Interesso-me pelo tema porque toca em aspectos de minha prática docente, incluindo o manejo da sala de aula e o conselho de classe. Também vejo no tema uma conexão com a responsabilização moral, meu tema de estudos desde o doutorado. A hipótese que fica nas entrelinhas é que os professores podem aproveitar o momento da avaliação para entregar uma parcela de reprovação moral que talvez não tenham conseguido entregar em outros momentos. Afinal, faz parte da psicologia humana uma disposição robusta para reprovar e punir o comportamento avaliado como incorreto, um traço que provavelmente tem uma origem evolutiva.

Separei e traduzi abaixo alguns trechos do artigo.

“No presente estudo longitudinal, investigamos a relação entre problemas de externalização na adolescência e desempenho em dois grandes domínios acadêmicos. Este estudo amplia pesquisas anteriores ao incluir tanto as notas dadas pelos professores quanto os testes padronizados como medidas de desempenho e ao investigar o papel da autoestima como um potencial mediador entre o desempenho e os subsequentes problemas de externalização.” (p. 756)

“De modo geral, problemas de externalização tiveram quase nenhum efeito sobre o desempenho avaliado por testes em ambos os domínios, ao controlar o desempenho anterior, as notas e a autoestima. […] parece razoável concluir que problemas de externalização de comportamentos influenciaram significativamente as notas escolares além do desempenho objetivo nos testes.” (p. 756)

“os problemas de externalização dos alunos têm efeitos adicionais nas notas, independentemente do desempenho em testes padronizados. A parcela não capturada pelos resultados nos testes pode estar relacionada a vários fatores, como a observação, pelos professores, do menor esforço de alunos indisciplinados e de seu desempenho inferior em sala de aula, efeitos relacionados à percepção e expectativa dos professores, penalização deliberada do comportamento antissocial ou dinâmicas da interação entre professor e aluno.” (p. 756-757)

“Outra explicação possível para o reflexo de problemas de externalização nas notas escolares é a sanção de comportamentos inadequados pelos professores (ver também Loveland et al, 2007). […] pode ser compreensível se os professores acabarem atribuindo notas mais baixas pelo mau comportamento dos alunos em uma tentativa desesperada de fazê-los obedecer.” (p. 757)

“A maioria dos estados da Alemanha possui regulamentação bastante clara sobre a avaliação […]. Esses regulamentos especificam que as avaliações de desempenho devem incluir habilidades e competências orais, escritas e práticas profissionais. O comportamento geral de trabalho e o comportamento social (por exemplo, pontualidade, conduta geral, adesão às regras, cooperação) devem ser avaliados separadamente das notas acadêmicas em avaliações genéricas.” (758)

Referência: Zimmermann, F., Schütte, K., Taskinen, P., & Köller, O. (2013). Reciprocal effects between adolescent externalizing problems and measures of achievement. Journal of Educational Psychology, 105(3), 747–761. https://doi.org/10.1037/a0032793

Posted in , ,

Deixe um comentário