Uma característica sempre enfatizada da filosofia é que ela se ocupa com problemas. Neste texto, seguindo a formulação de David Hume na Investigação acerca do Entendimento Humano, apresentarei o famoso problema da indução.
Em linhas gerais, ao menos tal como Hume o colocou, o problema pode ser apresentado como segue:
Há alguma razão para que presumamos que as regularidades causais que observamos no passado continuarão se dando no futuro? Há alguma justificativa racional para que, em geral, presumamos que as coisas serão no futuro semelhantes a como foram até então? Ou, ainda, podemos justificar por raciocínios nossa crença de que o sol nascerá amanhã, apenas pelo fato de ele ter nascido todos os dias que já vivemos até hoje?
A resposta de Hume, como muitos talvez já saibam, é negativa. Não é por raciocínios, por argumentos dedutivos, que demonstraremos que o futuro será semelhante ao passado. O problema pode também ser formulado assim:
P1: Vi que o sol nasceu no dia 08 de março de 1990.
P2: Vi que o sol nasceu no dia 09 de março de 1990.
…
Pn: Vi que o sol nasceu todos os dias desde 08 de março de 1990 até hoje, 09 de Maio de 2010.
(C) Logo, O sol nascerá amanhã. (Aqui foi feita uma indução).
Essa conclusão não se segue das premissas. É logicamente possível que as premissas todas (de P1 até Pn) sejam verdadeiras e, ainda assim, a conclusão (C) seja falsa.
O problema filosófico aí, o qual ocupou vários filósofos desde então, seria o de como justificar ou explicar essa inferência que sempre fazemos. O próprio Hume sabia que sempre fazemos essa inferência (todo mundo “sabe” que o sol nascerá amanhã). Mas é desconfortante pensar que isso, que é tão presente em nossas vidas, seja fruto de uma falha lógica, que não é um raciocínio logicamente válido que sustenta essa nossa inferência. Poderíamos dizer, inclusive, que a própria ciência para funcionar (fazer previsões e tudo o mais) está vulnerável a esse problema. Também isto, que não poucas vezes temos como a única certeza que podemos ter na vida – que vamos morrer –, repousa numa inferência logicamente inválida. Tamanha é a abrangência do problema da indução!
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Referência: HUME, Investigação acerca do entendimento humano, Sec. IV [ver o livro na Livraria Cultura].
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